Urutau (Nathan Bastos)
Urutau (Nathan Bastos)
No items found.
Brasil
Brazil

Artista da escuta e da presença, investiga memória, magia e direito à cidade entre Brasil e Portugal. Transita entre performance, instalação e intervenção urbana, ancorando a prática em fabulações que desestabilizam dicotomias dominantes: visível/invisível, humano/mais-que-humano, natureza/cultura, corpo/espírito. Formada em arquitetura-urbanismo com trânsito em antropologia, expôs no Museu de Arte Moderna da Bahia e foi residente no Porto Iracema das Artes (Fortaleza, BR), apresentando “Eu, falo” e a performance “Dou colo”, questionando a regulação dos afetos e práticas urbanísticas misóginas. Cofundadora do Coletivo Cidade Intuída, recusa autoria individual e opera em rede, concebendo a criação como transformação conjunta.

Explora o afeto como compromisso ontológico, propondo deslocamentos poéticos e políticos a partir da noção de Alma – interioridade compartilhada entre todos os seres – como ferramenta de reencantamento do quotidiano. Atua em contextos de apagamentos históricos e violências coloniais, convocando agências marginalizadas – corpos dissidentes, entidades espirituais, animais e forças da natureza – a emergirem no espaço público por meio da escuta, partilha e reinserção simbólica. Em diálogo com o situacionismo, performance relacional e práticas afroindígenas, compreende sua produção como liturgia urbana, tecendo gestos ritualísticos que ativam as camadas sutis do espaço.

O nome homenageia o urutau, ave cujo canto melancólico é presságio e chave de passagem, habitando zonas de sombra onde o visível se afrouxa e o espírito atravessa, chamando o que se perdeu a retornar e o que dorme a despertar.

http://www.behance.net/uru_tau

An artist of listening and presence, exploring memory, magic, and the right to the city between Brazil and Portugal. Moving across performance, installation, and urban intervention, his practice is anchored in fables that destabilise dominant dichotomies: visible/invisible, human/more-than-human, nature/culture, body/spirit. Trained in architecture and urbanism with a background in anthropology, he has exhibited at the Museu de Arte Moderna da Bahia and was a resident at Porto Iracema das Artes (Fortaleza, BR), presenting “Eu, falo” and the performance “Dou colo,” questioning the regulation of affects and misogynistic urban practices. Co-founder of the collective Cidade Intuída, he rejects individual authorship and works in a network, conceiving creation as a process of collective transformation.

He explores affect as an ontological commitment, proposing poetic and political shifts through the notion of Alma – an interiority shared among all beings – as a tool to re-enchant the everyday. Working in contexts marked by historical erasures and colonial violence, he calls marginalized agencies – dissident bodies, spiritual entities, animals, and natural forces – to emerge in public space through listening, sharing, and symbolic reinsertion. In dialogue with Situationism, relational performance, and Afro-indigenous practices, his work is conceived as an urban liturgy, weaving ritual gestures that activate the subtle layers of space.

His name honours the urutau, a bird whose melancholic song is an omen and passage key, inhabiting shadowed zones where the visible loosens and the spirit passes through, calling what was lost to return and what sleeps to awaken.

http://www.behance.net/uru_tau

Laboratório:
Laboratory:
Espetáculo:
Show:
Projeto
Escuto histórias de fantasmas
Project
I Listen to Ghost Stories

Numa espécie de arqueologia do inconsciente urbano, inscreve-se no espaço público, suscitando um encontro inevitável com a alteridade e o levante de memórias aterradas.

Diante do racionalismo ocidental, é preciso restaurar o sensível na cidade enquanto atitude política de cuidado ontológico. Sendo assim, que instâncias encantadas podemos mapear em Coimbra na intenção de reativar o animismo?

Pensando nisso pretendo dispor, em locais urbanos marcados pela transformação, dois bancos, uma mesa e um cartaz com os dizeres: “Escuto histórias de fantasmas.” Inspirado nas práticas performativas de Eleonora Fabião, atuarei como canal das histórias. O gesto rompe com a lógica da alienação ao ativar, por meio da escuta radical, um encontro simbólico entre desconhecidos, friccionando a regulação dos afetos no espaço urbano.

A escolha pelos fantasmas não é aleatória: eles evocam tanto os medos e sombras dos sujeitos quanto entidades intangíveis, silenciadas, que revelam memórias ocultas – do território e das pessoas. Escutá-los é levantar outros modos de relação com o tempo, o corpo e a cidade: é afirmar que todos nós – humanos e não-humanos, espíritos e forças naturais – possuímos Alma.

O projeto também investiga quem são os corpos que se dispõem à escuta e que sentido de Alma partilham que nos ensinam outros modos de convivência. Ao propor um gesto simples, o trabalho busca dissolver o protagonismo artístico, oferecendo aos transeuntes o papel de verdadeiros autores da cena.

Assim, ergue-se uma microcomunidade efêmera que atravessa o tempo de modo circular e não linear.

As vozes do passado emergem como ferramenta na construção de um futuro ancestral – habitado por ecos apagados e domesticados pelo sistema. Escutar é, nesse caso, um ato coletivo de reconstrução de mundos possíveis.

In a kind of archaeology of the urban unconscious, it inscribes itself in public space, provoking an unavoidable encounter with alterity and the raising of buried memories.

Faced with Western rationalism, it is necessary to restore sensibility in the city as a political act of ontological care. What enchanted instances can we map in Coimbra to reactivate animism? To this end, I intend to place two benches, a table, and a sign reading “I Listen to Ghost Stories” in urban sites marked by transformation. Inspired by the performative practices of Eleonora Fabião, I act as a channel for these stories. The gesture disrupts alienation, activating a symbolic encounter between strangers through radical listening, frictioning the regulation of affects in urban space.

The choice of ghosts is deliberate: they evoke both the fears and shadows of subjects and intangible, silenced entities that reveal hidden memories – of the territory and its people. Listening to them is to uncover other modes of relating to time, body, and city: asserting that all of us – human and non-human, spirits and natural forces – possess Alma.

The project also investigates who the bodies willing to listen are and what sense of Alma they share, teaching other modes of coexistence. By proposing a simple gesture, the work seeks to dissolve artistic protagonism, offering passersby the role of true authors of the scene. A temporary micro-community emerges, moving through time in a circular, non-linear way. Voices of the past surface as tools to construct an ancestral future, inhabited by echoes erased and domesticated by the system. Listening thus becomes a collective act of rebuilding possible worlds.