Num desenvolvimento temático de acordo com uma lógica dramatúrgica que se alimenta de cada edição anterior, todos os anos se propõe a discussão de um tema. A quinta edição, que terá lugar em novembro de 2025, será dedicada ao tema "A Performatividade da Amizade".
Vivemos num mundo cada vez mais fragmentado e acelerado. Falta-nos tempo para cultivar estados mais profundos do nosso ser e contexto. Somos amigos de todos nas redes sociais, da mesma maneira que odiamos muitos sem saber porquê. Vemos políticos sem ética usar a palavra amizade como moeda de troca e o mundo das relações a degradar-se a favor de um capitalismo cada vez mais desenfreado. Por isso propomos voltar a olhar a amizade na sua verdadeira essência, sem a estabilidade ou segurança de um contrato social, sem a cristalização de um like, love, lol, hate que esquecemos passados 5 minutos.
Vamos falar de amizade como um ato de resistência e cuidado, uma prática que se faz na tridimensionalidade da presença planetária, na continuidade do tempo e no seu cultivo. E falamos de performatividade da amizade porque sabemos que ela acontece no fazer, no estar juntos, no ser vulnerável e permitir a exposição ao outro, tal como defende a filósofa catalã Marina Garcés.
A amizade lida com incertezas, fragilidades e risco mas também resgata a ideia de comunidade, não é uma moeda de troca, mas – parafraseando Bell Hooks - uma prática radical de cuidado, uma ética do ser em conjunto, com o outro e com a sua diferença, com a sua vulnerabilidade e com a nossa capacidade de estar presente de forma consciente, de conseguir integrar um sistema de troca de fluídos e ideias sem hierarquias. E a amizade é performativa porque se faz e se refaz cada dia, com cada escolha, com a consciência do cuidado e respeito necessário para tal.
A performatividade da amizade é um ato político, propõe-nos sair do estado individualista para passar para o espaço coletivo. Ao tomarmos a amizade como uma prática ética, comprometemo-nos com outros e resistimos a um sistema que nos quer sós, separados, fechados nos nossos próprios medos. A amizade é, antes de tudo, um ato de extensão da nossa própria liberdade porque nos permite ser vulnerável, estar em comunidade e arriscar na relação com o outro, sem ter que seguir regras que nos definem formas de atuar previsíveis, permite a improvisação e educa-nos para acolher o desconhecido.A performatividade da amizade hoje é uma prática de liberdade, de responsabilidade ede criação do comum — um dos atos mais profundos de resistência e de cuidado coma vida.
Com o objetivo de provocar um pensamento crítico sobre este tema através da arte, o festival desenrola-se numa programação de obras pensadas com uma lógica dramatúrgica prismática. A programação é espalhada pela cidade, em vários teatros e espaços onde propomos uma análise do ao tema deste ano a partir dos diferentes backgrounds e visões dos artistas convidados (ver programação detalhada), propondo aos espectadores que sigam a proposta curatorial com interesse e curiosidade, seja através de espetáculos, conversas e outras atividades em que podem participar. Também procuramos tornar a estadia dos artistas estrangeiros mais sustentável, incentivando-os a permanecer mais tempo na cidade para dialogar com os processos do laboratório, mas também para participar em conversas e encontros onde pretendemos discutir o tema desta edição. Linha de Fuga é um festival de dança contemporânea, mas também consideramos importante abrir espaço para outras áreas artísticas ou acolher outros dispositivos desses artistas de dança, possibilitando diálogos sobre diferentes formas de ver os conceitos propostos.
Com o objetivo de provocar um pensamento crítico sobre este tema através da arte, o festival desenrola-se numa programação de obras pensadas com uma lógica dramatúrgica prismática. A programação é espalhada pela cidade, em vários teatros e espaços onde propomos uma análise do ao tema deste ano a partir dos diferentes backgrounds e visões dos artistas convidados (ver programação detalhada), propondo aos espectadores que sigam a proposta curatorial com interesse e curiosidade, seja através de espetáculos, conversas e outras atividades em que podem participar. Também procuramos tornar a estadia dos artistas estrangeiros mais sustentável, incentivando-os a permanecer mais tempo na cidade para dialogar com os processos do laboratório, mas também para participar em conversas e encontros onde pretendemos discutir o tema desta edição. Linha de Fuga é um festival de dança contemporânea, mas também consideramos importante abrir espaço para outras áreas artísticas ou acolher outros dispositivos desses artistas de dança, possibilitando diálogos sobre diferentes formas de ver os conceitos propostos. Nesse sentido programamos Mucha Muchacha (ES) com os desafios às tradições da dança espanhola sob uma perspetiva feminista; Marta Blanco (ES) – artista lab 2018 e residente em 2024 – explora o papel do coletivo numa sociedade de controlo; Sónia Baptista (PT) numa versão drag king, desafia e reinterpreta os paradigmas do catolicismo patriarcal; Antonio Tagliarini (IT) processa a importância da solidariedade com a falha; Adriana Reyes (ES) convoca-nos para uma experiência sensorial com plantas. Programamos artistas baseados na cidade como Jan Fedinger (DE/PT) que nos transporta numa viagem por luz e som e Margarida Cabral (artista lab 2022 e residente em 2023) e Francisco Correia (PT) num encontro e questionamento sobre o tempo.
Este ano, em vez de comissionar novas criações locais, lançamos uma convocatória para conhecer curadores que nos transmitam a sua visão sobre o que fazem artistas locais. E finalmente, continuamos a nossa colaboração com Catarina Silva e Tatiana Moura do Observatório das Masculinidades do CES para curar um programa de conversas sobre amizade. Mas também abrimos o festival e laboratório antecipadamente, fazendo uma ponte entre a edição do ano passado e a presente, através da exposição “Mistura #8” que inauguramos em Setembro, em parceria com o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.